Legitimação da desigualdade de gênero: uma análise a partir das diferenças ideológicas e do enquadramento da informação [Digital]
Tese
Português
347.156:177.5
Fortaleza, 2024.
297f.
O presente programa de pesquisa tem como objetivo defender a tese de que o enquadramento das informações que contestam/ameaçam a ordem social (acerca da desigualdade de gênero) influencia o conforto com a desigualdade impactando a ação coletiva para pessoas que justificam o sistema e que endossam...
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O presente programa de pesquisa tem como objetivo defender a tese de que o enquadramento das informações que contestam/ameaçam a ordem social (acerca da desigualdade de gênero) influencia o conforto com a desigualdade impactando a ação coletiva para pessoas que justificam o sistema e que endossam ideologias legitimadoras da desigualdade em distintos contextos culturais (Brasil e Estados Unidos). Para atingir esse objetivo, foram desenvolvidos cinco manuscritos. Manuscrito 1 se configurou enquanto uma revisão de escopo (Scoping Review) que buscou identificar e caracterizar a literatura existente sobre teorias que legitimam a desigualdade de gênero, especificamente Orientação à Dominância Social, Autoritarismo de Direita e Teoria da Justificação do Sistema, esclarecendo suas contribuições relativas. Os resultados identificaram quatro categorias temáticas: expressões de sexismo e variações, violência contra as mulheres e objetificação, papéis de gênero, estereótipos e masculinidade, e mudança social em direção à igualdade de gênero. A literatura também indicou um processo motivacional dual para legitimação da desigualdade de gênero por vias ideológicas. O Manuscrito 2 focou na adaptação da Escala de Justificação do Sistema para Relações de Gênero (EJSRG) para o contexto brasileiro e apresentou evidências de validade e confiabilidade. Os resultados replicaram a estrutura unifatorial original em uma versão reduzida, com discussões sobre suas limitações no contexto brasileiro. O Manuscrito 3 teve como objetivo desenvolver e validar uma versão ampliada e revisada da escala para o Brasil e os Estados Unidos, testando sua estrutura fatorial e parâmetros psicométricos. Os resultados indicaram uma estrutura de dois fatores: Meritocracia de Gênero Percebida (PGM) e Resistência à Mudança das Normas de Gênero (RGNS), com variações entre as versões brasileira e norte-americana. O Manuscrito 4 testou empiricamente um modelo explicativo do conforto com a desigualdade de gênero, considerando diferenças ideológicas na justificação do sistema e percepções de relações de gênero futuras. Utilizando amostras dos Estados Unidos (N = 120) e Brasil (N = 186), foi encontrada uma mediação em série entre ideologia política, justificação do sistema de gênero e sexismo benevolente. No Brasil, essas variáveis combinadas explicaram o conforto com a desigualdade, enquanto, nos Estados Unidos, a relação foi mais direta entre ideologia política conservadora e conforto. O enquadramento das relações de gênero futuras (estabilidade vs. mudança) também influenciou o conforto, mostrando resistência em cenários de igualdade e redução da justificação em cenários de desigualdade persistente. Por fim, o Manuscrito 5 investigou como o enquadramento da (des)igualdade de gênero impacta as diferenças ideológicas na disposição de apoiar a igualdade de gênero e o conforto com a desigualdade no Brasil e nos Estados Unidos. Análises comparativas com amostras dos Estados Unidos (N = 188) e Brasil (N = 375) revelaram uma interação significativa entre ideologia política, enquadramento e conforto com a desigualdade de gênero como preditores da disposição para ação coletiva. O enquadramento positivo teve um efeito mais mobilizador entre os desconfortáveis com a desigualdade, enquanto o enquadramento negativo mobilizou aqueles confortáveis com ela. Os manuscritos são discutidos de forma integrada à luz da literatura.
Palavras-chave: Desigualdade de Gênero. Legitimação. Ideologia Política. Justificação do Sistema. Ver menos
Palavras-chave: Desigualdade de Gênero. Legitimação. Ideologia Política. Justificação do Sistema. Ver menos
The present research program aims to support the thesis that the framing of information that challenges/threatens the social order (about gender inequality) influences comfort with inequality, impacting collective action for people who justify the system and who endorse ideologies that legitimize...
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The present research program aims to support the thesis that the framing of information that challenges/threatens the social order (about gender inequality) influences comfort with inequality, impacting collective action for people who justify the system and who endorse ideologies that legitimize inequality across different cultural contexts (Brazil and the United States). To achieve this objective, five manuscripts were developed. Manuscript 1 is a scoping review that sought to identify and characterize existing literature on theories legitimizing gender inequality, specifically Social Dominance Orientation, Right-Wing Authoritarianism, and System Justification Theory, to clarify their relative contributions. The findings identified four thematic categories: expressions of sexism and variations, violence against women and objectification, gender roles, stereotypes and masculinity, and social change toward gender equality. Additionally, the literature pointed to a dual motivational process of legitimizing gender inequality through ideological pathways. Manuscript 2 focused on adapting the System Justification Scale for Gender Relations to the Brazilian context and provided evidence of validity and reliability. The results replicated the original unidimensional structure but in a reduced version, with discussions about its limitations in the Brazilian context. Manuscript 3 aimed to develop and validate an expanded and revised version of the scale for Brazil and the United States, testing its factor structure and psychometric parameters. The findings indicated a two-factor structure: Perceived Gender Meritocracy (PGM) and Resistance to Gender Norms Shift (RGNS), with slight variations between the Brazilian and U.S. versions. Manuscript 4 empirically tested an explanatory model of comfort with gender inequality, considering ideological differences in system justification and perceptions of future gender relations. Using samples from the United States (N = 120) and Brazil (N = 186), a serial mediation between political ideology, gender system justification, and benevolent sexism was found. While combined variables predicted comfort with inequality in Brazil, a direct relationship between conservative political ideology and comfort was found in the U.S. The framing of future gender relations (stability vs. change) also influenced comfort levels, showing resistance in scenarios of equality and reduced justification in scenarios of persistent inequality. Finally, Manuscript 5 investigated how framing (in)equality impacts ideological differences in willingness to support gender equality and comfort with inequality in Brazil and the United States. Comparative analyses with samples from the U.S. (N = 188) and Brazil (N = 375) revealed a significant interaction between political ideology, framing, and comfort with gender inequality as predictors of willingness for collective action. Positive framing had a mobilizing effect among those uncomfortable with inequality, while negative framing mobilized those comfortable with it. The manuscripts are discussed integratively in light of the literature.
Keywords: Gender Inequality. Legitimation. Political Ideology. System Justification. Ver menos
Keywords: Gender Inequality. Legitimation. Political Ideology. System Justification. Ver menos
Souza, Luana Elayne Cunha de
Orientador
Jost, John Thomas
Coorientador
Viana, Luciana Maria Maia
Banca examinadora
Moreira, Pollyana de Lucena
Banca examinadora
Pereira, Cicero Roberto
Banca examinadora
Santos, Walberto Silva dos
Banca examinadora
Universidade de Fortaleza. Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Tese (doutorado)