Contações femininas: gênero e percepções de mulheres dependentes químicas sobre drogas [Digital]
Dissertação
Português
613.83-055.2
Fortaleza, 2020.
Embora o uso de drogas esteja presente nas sociedades desde os tempos mais remotos, na contemporaneidade as relações do indivíduo com as substâncias psicoativas e a forma como o social as julga tornou esta realidade um fenômeno complexo, multifatorial e polêmico. Atualmente, o consumo de substâncias...
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Embora o uso de drogas esteja presente nas sociedades desde os tempos mais remotos, na contemporaneidade as relações do indivíduo com as substâncias psicoativas e a forma como o social as julga tornou esta realidade um fenômeno complexo, multifatorial e polêmico. Atualmente, o consumo de substâncias psicoativas e os problemas dele decorrentes são vistos como democráticos, comum aos diferentes gêneros, faixas etárias, classes econômicas e grupos sociais. Atenta a esta comunicação entre drogas e gênero, tão nítida nas vivências, mas velada em tantos discursos e práticas, emergiu a pergunta: como as questões de gênero se relacionam com a dependência química em mulheres? Uma pesquisa que buscasse compreender esse questionamento justifica-se pela necessidade da ciência de acompanhar a evolução dos fenômenos sociais e dos estilos de vida que afetam a saúde da população. Buscou-se compreender a relação entre questões de gênero e dependência química partindo da percepção de mulheres que buscaram acompanhamento em saúde por adicção. Trata-se de uma pesquisa descritiva, de campo, de abordagem qualitativa do problema, com coleta de dados através de entrevistas realizadas pelo aplicativo whatsapp mensager, utilizando roteiro semiestruturado previamente elaborado. Como participantes, o estudo contou com 8 mulheres dependentes de substâncias psicoativas licitas e ilícitas, que buscaram tratamento em saúde motivado pela adicção nos últimos 12 meses. Estas foram acessadas a partir de indicação de profissionais de saúde vinculados à Atenção Básica e ao CAPSad do município de Picos-PI. A análise das entrevistas seguiu o passo a passo da análise de conteúdo de Bardin, e os resultados foram interpretados à luz das teorias de gênero e dos estudos sobre dependência química utilizados na construção teórica desse estudo. Foram apresentados em três categorias temáticas: Percepção de si; Percepção da droga e Percepção da sociedade, que emergiram dos conteúdos verbalizados pelas mulheres, e discutem suas compreensões sobre esses aspectos. Os resultados demonstram que as questões de gênero marcam fortemente as percepções femininas de si, da forma como os papéis de mulher são ou não exercidos no movimento da dependência química, e de como a sociedade valida seus comportamentos. As mulheres adictas sofrem mais pressões familiares para o abandono do uso, ao tempo em que nem sempre essa cobrança vem acompanhada de apoio; sentem-se mais julgadas e estigmatizadas pelos seus comportamentos do que os homens; e algumas reconhecem riscos diferenciados por conta do gênero, o que singulariza a relação mulher e droga. Às mulheres, ficam reservados estigmas peculiares, que as associam a comportamentos inadequados, abandono da família e da sua casa, prostituição, vergonha, falta de moral, e que se somam às vulnerabilidades as quais elas já estão expostas pelo simples fato de serem mulheres e pelo exercício do poder masculino, potencializando os riscos de serem violentadas e mortas. Preocupa o quanto as vidas das mulheres ainda são conduzidas por essas expectativas sociais, e principalmente, o quanto esses padrões perpetuam exclusões e condenam muitas mulheres a sofrimentos e adoecimentos.
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Although the use of drugs has been present in societies since the most remote times, in contemporary times the individual's relations with psychoactive substances and the way the social judge them have made this reality a complex, multifactorial and controversial phenomenon. Currently, the...
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Although the use of drugs has been present in societies since the most remote times, in contemporary times the individual's relations with psychoactive substances and the way the social judge them have made this reality a complex, multifactorial and controversial phenomenon. Currently, the consumption of psychoactive substances and the problems arising from them are seen as democratic, common to different genders, age groups, economic classes and social groups. Attentive to this communication between drugs and gender, so clear in the experiences, but veiled in so many speeches and practices, the question emerged: how do gender issues relate to chemical dependence in women? Research that seeks to understand this question is justified by the need for science to monitor the evolution of social phenomena and lifestyles that affect the health of the population. We sought to understand the relationship between gender issues and chemical dependence based on the perception of women who sought health care for addiction. It is a descriptive, field research, with a qualitative approach to the problem, with data collection through interviews carried out by the whatsapp messager application, using a semi-structured script previously prepared. As participants, the study included 8 women dependent on licit and illicit psychoactive substances, who sought health treatment motivated by addiction in the last 12 months. These were accessed based on the indication of health professionals linked to Primary Care and CAPSad in the municipality of Picos-PI. The analysis of the interviews followed the step by step of Bardin's content analysis, and the results were interpreted in the light of gender theories and studies on chemical dependency used in the theoretical construction of this study. They were presented in three thematic categories: Self-perception; Perception of the drug and Perception of society, which emerged from the contents verbalized by women, and discuss their understandings on these aspects. The results demonstrate that gender issues strongly mark women's perceptions of themselves, the way in which women's roles are or are not exercised in the drug addiction movement, and how society validates their behaviors. Addicted women suffer more family pressures to stop using, while this charge is not always accompanied by support; they feel more judged and stigmatized for their behavior than men; and some recognize different risks due to gender, which makes the relationship between women and drugs unique. To women, peculiar stigmas are reserved, which associate them with inappropriate behaviors, abandonment of the family and home, prostitution, shame, lack of morals, and which add to the vulnerabilities to which they are already exposed simply because they are women and through the exercise of male power, increasing the risks of being raped and killed. It concerns how the lives of women are still driven by these social expectations, and especially, how these standards perpetuate exclusions and condemn many women to suffering and illness.
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Brilhante, Aline Veras Morais
Orientador
Melo, Anna Karynne da Silva
Banca examinadora
Souza Júnior, Paulo Fernando Mafra de
Banca examinadora
Universidade de Fortaleza. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Dissertação (mestrado)