É só uma cantada? Uma análise da experiência e percepção do assédio de rua entre homens e mulheres [Digital]
Dissertação
Português
343.54
[Is it only a catcalling? analysis of the experience and perception of street harassment between men and womem]
Fortaleza, 2019.
O assédio de rua acontece em espaços públicos, como, nas ruas, nas lojas, nos transportes públicos, nos parques e nas praias. Difere de questões como, o assédio sexual na escola e no local de trabalho, paquera e violência doméstica, porque acontece entre estranhos em um lugar público, o que...
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O assédio de rua acontece em espaços públicos, como, nas ruas, nas lojas, nos transportes públicos, nos parques e nas praias. Difere de questões como, o assédio sexual na escola e no local de trabalho, paquera e violência doméstica, porque acontece entre estranhos em um lugar público, o que atualmente significa que há menos recursos legais para combatê-lo. O assédio de rua configura-se enquanto um contato unilateral de um homem estranho para como uma mulher, em que as mulheres não participam dessa interação, pelo contrário, elas se sentem invadidas por palavras, sons, gestos ou olhares que insistem uma aproximação. Diante disso, a presente dissertação teve como objetivo analisar a experiência e percepção do assédio de rua entre homens e mulheres. De modo mais específico, esse trabalho pretendeu conhecer experiências de assédio de rua vivenciadas por homens e mulheres, analisar os impactos negativos das experiências de assédio de rua, bem como compreender o que fazem para evitar tal fenômeno; analisar se os participantes percebem o assédio como um comportamento sexista e como o justificam; investigar se a percepção do assédio de rua varia de acordo com o cenário (rua e festa) em que ele ocorre; além de investigar se a percepção do assédio de rua varia entre homens e mulheres, e se a percepção do assédio de rua é influenciada pelo nível de sexismo hostil e benevolente que os participantes aderem. Para tanto, realizou-se uma pesquisa online, em que contou-se com a participação de 323 pessoas da população geral, de diferentes regiões do país, dos quais a maioria era do sexo feminino (73,5%), de orientação heterossexual (83,6%), de classe social média (41%), de etnia branca (41,4%), escolaridade Superior Completo (49,1%), residente na cidade de Fortaleza (55,9%), com idades variando entre 16 e 65 anos (M = 27,5; DP = 8,10). Utilizou-se o software SPSS para análise dos dados quantitativos e o IRAMUTEQ para os dados qualitativos. Sendo assim, primeiramente, os resultados mostram que embora os homens relatem sofrer assédio, esse é um fenômeno é de fato mais vivenciado pelas mulheres. Isso porque elas sofrem diariamente e com maior frequência em todos os lugares em comparação aos homens. Isso fica ainda mais concreto quando analisa-se as experiências (relatos) de assédio de rua dos participantes, em que foram analisados por meio de uma análise de Classificação Hierárquica Descendente (CHD), no IRAMUTEQ. O conteúdo analisado foi categorizado em 5 classes. Classe 1: Condutas e Falas Hostis de motoristas; Classe 2: Assédio de rua como violência explícita; Classe 3: Relatos específicos de assédio no ônibus; Classe 4: Naturalização do assédio; Classe 5: Comentários, assobios e buzinadas. Em síntese, as classes 1, 2 e 3 evidenciam a predominância de relatos de mulheres sobre o comportamento do assediador e sobre os locais que mais sofrem essas situações, já as classes 4 e 5 abordam o fenômeno desqualificando-o como algo natural ou uma mera cantada. Nessas classes aparecem os relatos dos homens em que se percebe claramente que o que eles dizem ser assédio, na realidade não é. Portanto, conclui-se que o assédio de rua é, de fato, uma forma de violência contra a mulher, pois gera consequências diretas na vida das mulheres, como o constrangimento e a vergonha que sentem ao ouvir certas coisas quando estão simplesmente andando pelas ruas, o medo que sentem e que faz com que evitem certas ruas, roupas e lugares, por receio de uma violência maior, como, o estupro. Além disso, os participantes ainda justificaram o por quê do homem agir de tal modo com Laura. Tais relatos de justificativa também foram analisados por meio de uma análise CHD. O conteúdo analisado foi categorizado em 5 classes. Classe 1: O desrespeito para uma reafirmação da masculinidade; Classe 2: Crítica à objetificação da mulher; Classe 3: Crítica à sociedade patriarcal; Classe 4: Culpabilização da vítima; Classe 5: Machismo. Em síntese, as classes 1, 2 e 3 evidenciam a percepção da mulher como objetificação sexual, bem como o desrespeito para com elas, tendo em vista uma sociedade com uma educação que reforça hierarquia de gênero, o que leva a uma
legitimação da dominação masculina com apropriação sobre o corpo feminino; já a classe 4 culpabiliza tal situação ter ocorrido por culpa de Laura, mesmo que isso perpasse a mulher ser bonita e atraente. A classe 5 evidencia justificativas perpassada pelas normas culturais do machismo. Quanto a analisar se os participantes perceberam o assédio como um comportamento sexista, os resultados mostraram que as mulheres percebem mais que os homens [t (321) = 3,86 p < 0,01]. Quanto à variação da percepção do sexismo de acordo com o contexto que ocorre, seja assédio na festa, seja assédio na rua, os resultados mostram que não existe diferença significativa nessa percepção [t (321) = -1,04, p = 0,30]. No que tange aos fatores de sexismo hostil e sexismo benevolente, os resultados mostraram que há diferença significativa entre homens e mulheres no fator de sexismo hostil (t (321) = - 4,41 p < 0,01), em que os homens aderem mais esse sexismo que as mulheres. Ao passo que no sexismo benevolente não existe diferença significativa, de forma que homens e mulheres não diferiram em suas respostas (t (321) = -1,43 p = 0,15). Por fim, para examinar se o sexismo hostil e o sexismo benevolente predizem a percepção do sexismo, os resultados mostraram que o sexismo hostil (ß = - 0,55; p < 0,01), prediz significativamente a percepção do assédio como comportamento sexista, mas o sexismo benevolente (ß = 0,07; p = 0,22) não prediz [R² = 0,26; F (2, 320) = 57,169, p < 0,001]. Pode-se inferir que os participantes percebem o assédio como comportamento sexista, contudo as mulheres percebem mais tal fenômeno como um problema do que os homens, porque o vivenciam cotidianamente, além de que elas expressam mais emoções negativas que os homens apenas ao ler uma situação de assédio de rua.
Palavras-chave: Assédio de Rua; Sexismo; Sexismo ambivalente; Atitudes sexistas Ver menos
legitimação da dominação masculina com apropriação sobre o corpo feminino; já a classe 4 culpabiliza tal situação ter ocorrido por culpa de Laura, mesmo que isso perpasse a mulher ser bonita e atraente. A classe 5 evidencia justificativas perpassada pelas normas culturais do machismo. Quanto a analisar se os participantes perceberam o assédio como um comportamento sexista, os resultados mostraram que as mulheres percebem mais que os homens [t (321) = 3,86 p < 0,01]. Quanto à variação da percepção do sexismo de acordo com o contexto que ocorre, seja assédio na festa, seja assédio na rua, os resultados mostram que não existe diferença significativa nessa percepção [t (321) = -1,04, p = 0,30]. No que tange aos fatores de sexismo hostil e sexismo benevolente, os resultados mostraram que há diferença significativa entre homens e mulheres no fator de sexismo hostil (t (321) = - 4,41 p < 0,01), em que os homens aderem mais esse sexismo que as mulheres. Ao passo que no sexismo benevolente não existe diferença significativa, de forma que homens e mulheres não diferiram em suas respostas (t (321) = -1,43 p = 0,15). Por fim, para examinar se o sexismo hostil e o sexismo benevolente predizem a percepção do sexismo, os resultados mostraram que o sexismo hostil (ß = - 0,55; p < 0,01), prediz significativamente a percepção do assédio como comportamento sexista, mas o sexismo benevolente (ß = 0,07; p = 0,22) não prediz [R² = 0,26; F (2, 320) = 57,169, p < 0,001]. Pode-se inferir que os participantes percebem o assédio como comportamento sexista, contudo as mulheres percebem mais tal fenômeno como um problema do que os homens, porque o vivenciam cotidianamente, além de que elas expressam mais emoções negativas que os homens apenas ao ler uma situação de assédio de rua.
Palavras-chave: Assédio de Rua; Sexismo; Sexismo ambivalente; Atitudes sexistas Ver menos
Street harassment happens in public spaces, such as streets, stores, public transportation, parks and beaches. It differs from flirting, domestic violence or sexual harassment at school or work because it happens in public spaces, which currently means that there is less legal resources to fight it....
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Street harassment happens in public spaces, such as streets, stores, public transportation, parks and beaches. It differs from flirting, domestic violence or sexual harassment at school or work because it happens in public spaces, which currently means that there is less legal resources to fight it. Street harassment is defined as a unilateral contact between a strange man and a woman, without her consent. As a matter of fact, the women feel violated by words, sounds, gestures and looks that force an approximation. In this way, this study analyzed the experience and perception of street harassment between men and women. More specifically, this study aimed to assess street harassment experienced by men and women, to investigate the negative effects of street harassment, to comprehend how the participants avoid this phenomenon, to investigate whether they see it as a sexist behavior and how they explain it, to explore if the perception of street harassment varies between men and women or according to the scenario in which it happened, and if the perception of street harassment is influenced by the participants¿ level of benevolent and hostile sexism. In this way, an online survey was carried out with 323 participants from different regions of Brazil. The majority was female (73,5%), heterossexual (83,6%), white (41,4%), belonged to middle class (41%), possessed an academic degree (49,1%), lived in Fortaleza (55,9%), and aged between 16 and 65 years (M=27,5; DP=8,10). The SPSS software was used to analyze the quantitative data, whereas IRAMUTEQ was used to analyze the qualitative data. Thus, first, the results show that although men report harassment, this is a phenomenon that is actually more experienced by women. This is because they suffer daily and more often everywhere compared to men. This becomes even more concrete when we analyze the participants' street harassment experiences (reports), which were analyzed using a Descending Hierarchical Classification (CHD) analysis at IRAMUTEQ. The analyzed content was categorized into 5 classes. Class 1: Conduct and Hostile Speech by drivers; Class 2: Street harassment as explicit violence; Class 3: Specific reports of bus harassment; Class 4: Naturalization of harassment; Class 5: Comments, whistles and honks. In summary, classes 1, 2 and 3 show the predominance of reports of women about the behavior of the stalker and the places that suffer the most, while classes 4 and 5 address the phenomenon disqualifying it as something natural or a mere sung. In these classes appear the reports of men clearly realizing that what they say is harassment is not really. Therefore, it is concluded that street harassment is, in fact, a form of violence against women, as it generates direct consequences on women's lives, such as the embarrassment and shame they feel when hearing certain things when they are simply walking the streets. , the fear they feel that causes them to avoid certain streets, clothes and places, for fear of greater violence, such as rape. In addition, the participants also justified why the man acts in such a way with Laura. Such justification reports were also analyzed using a CHD analysis. The analyzed content was categorized into 5 classes. Class 1: Disrespect for a reaffirmation of masculinity; Class 2: Criticism of the objectification of women; Class 3: Criticism of patriarchal society; Class 4: Blaming the victim; Class 5: Machismo. In summary, classes 1, 2 and 3 show the perception of women as sexual objectification, as well as the disrespect towards them, in view of a society with an education that reinforces gender hierarchy, which leads to a legitimation of male domination. with appropriation over the female body; Class 4, on the other hand, blames this for Laura's fault, even if it made the woman beautiful and attractive. Class 5 evidences justifications permeated by the cultural norms of machismo. The main results from the quantitative analysis showed that the participants see street harassment as a sexist behavior. However, the women contributed more to this result [t (321) = 3,86 p<0,01]. As to the variation of the perception of sexism according to the context in which it
happens (whether it happened on the street or during parties), there was no significant difference [t (321) = -1,04, p=0,30]. When it comes to hostile and benevolent sexism, the results showed that there is a significant difference between men and women in the hostile sexism [t (321) = -4,41, p<0,01], revealing that men adhere more to this sexism than women. There was no difference in the benevolent sexism [t (321) = -1,43, p=0,15]. Lastly, the assessment of whether hostile and benevolent sexism predict sexism perception revealed that hostile sexism (B= -0,55; p<0,01) predicts the perception of harassment as a sexist behavior, whereas the benevolent sexism (B= -0,07; p=0,22) does not predict the perception of harassment as a sexist behavior [R² = 0,26; F (2, 320) = 57,169, p < 0,001]. It can be inferred that people see street harassment as a sexist behavior, although women identify it as a problem more than men. This is because women frequently experience harassment.
Key words: Street harassment, Sexism, Ambivalent sexism, Sexist attitudes. Ver menos
happens (whether it happened on the street or during parties), there was no significant difference [t (321) = -1,04, p=0,30]. When it comes to hostile and benevolent sexism, the results showed that there is a significant difference between men and women in the hostile sexism [t (321) = -4,41, p<0,01], revealing that men adhere more to this sexism than women. There was no difference in the benevolent sexism [t (321) = -1,43, p=0,15]. Lastly, the assessment of whether hostile and benevolent sexism predict sexism perception revealed that hostile sexism (B= -0,55; p<0,01) predicts the perception of harassment as a sexist behavior, whereas the benevolent sexism (B= -0,07; p=0,22) does not predict the perception of harassment as a sexist behavior [R² = 0,26; F (2, 320) = 57,169, p < 0,001]. It can be inferred that people see street harassment as a sexist behavior, although women identify it as a problem more than men. This is because women frequently experience harassment.
Key words: Street harassment, Sexism, Ambivalent sexism, Sexist attitudes. Ver menos
Souza, Luana Elayne Cunha de
Orientador
Souza, Luana Elayne Cunha de
Banca examinadora
Techio, Elza Maria
Banca examinadora
Viana, Luciana Maria Maia
Banca examinadora
Universidade de Fortaleza. Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Dissertação (mestrado)