A emergência da Irmandade Alcoólicos Anônimos no século XX demarca o
surgimento do grupo de ajuda mútua, vínculo social característico do contexto das
adicções e da predominância do discurso do capitalista. Em psicanálise são raros
os estudos sobre a Irmandade, sendo sua abordagem periférica na...

A emergência da Irmandade Alcoólicos Anônimos no século XX demarca o
surgimento do grupo de ajuda mútua, vínculo social característico do contexto das
adicções e da predominância do discurso do capitalista. Em psicanálise são raros
os estudos sobre a Irmandade, sendo sua abordagem periférica na discussão
sobre o laço social. A chamada ¿literatura de AA¿ recebeu uma atenção
secundária ou complementar as pesquisas já realizadas no campo das ciências
sociais que privilegia o método etnográfico. Nosso propósito é problematizar a
proposta terapêutica dos AA para o alcoolismo registrada em sua literatura,
considerando seu lugar central na produção subjetiva do alcoólico anônimo. A
presente tese visa, portanto, analisar o processo de (re)construção subjetiva
promovido pela irmandade Alcoólicos Anônimos (AA), tendo como referencial
teórico a psicanálise freudolacaniana. A pesquisa revelou que o programa
terapêutico espiritual dos AA se apropria de preceitos filosóficos pragmatistas,
cristãos e psicológicos. Em termos históricos-genealógicos esta referência
identitária teve como efeito maior a individualização e psicologização da categoria
patológica alcoolismo. Ao estabelecerem a crença espiritual como condição para
a prática dos doze passos, os AA recuperam a dimensão do Outro divino, mas
sem sua consistência teológica. Em termos discursivos, a ênfase na técnica
revela um agenciamento do saber pragmático na produção massiva do alcoólico
anônimo. Conclui-se que para os AA a recuperação do alcoolismo equivale a uma
construção identitária e narrativa do alcoólico anônimo, repercutindo em uma
forma de vida adicta abstinente.
Palavras-chave: Alcoolismo; Alcoólicos Anônimos; Psicanálise; Discurso;
Subjetivação.

The founding of the AA in the twentieth century marked the emergence of the
mutual aid group, a social bond characteristic of the context of addictions and the
hegemony of the capitalist discourse. Studies in the psychoanalytic field on the
Brotherhood are rare, and a detailed survey of its...

The founding of the AA in the twentieth century marked the emergence of the
mutual aid group, a social bond characteristic of the context of addictions and the
hegemony of the capitalist discourse. Studies in the psychoanalytic field on the
Brotherhood are rare, and a detailed survey of its constitution in the social bond is
practically absent. The so-called AA literature received a secondary or
complementary attention to research already done in the field of social sciences
that favor the ethnographic method. Our proposal is to problematize the AA
therapeutic program for the alcoholism registered in its literature, considering its
central place in the discursive production of the anonymous alcoholic. The present
thesis aims, therefore, to analyze the work of subjective construction promoted by
AA from the psychoanalytic theoretical reference in its Freudian and Lacanian
slope. Research has shown that AA's spiritual therapeutic program appropriates
pragmatic, Christian, and psychological philosophical precepts. In historical and
genealogical terms this identity reference had as its main effect the
individualization and psychologization of the medical category alcoholism. In
establishing spiritual belief as a condition for the practice of the twelve steps AAs
regain the dimension of the divine Other, but without their theological consistency.
In discursive terms, the emphasis on technique reveals an agency of pragmatic
knowledge in the mass production of the anonymous alcoholic. It is concluded that
for AA the recovery of alcoholism is equivalent to the identity and narrative
construction of the anonymous alcoholic, repercussions on an abstinent addicted
life form.
Key-words: Alcoholism; Alcoholics Anonymous; Psychoanalysis; Discourse;
Subjectivation.