Historicamente, em nossa sociedade, a função de cuidar é atribuída às mulheres, com um centramento evidente na figura materna das responsabilidades envolvidas com as filhas e filhos. A maternagem é vista, quase que exclusivamente, como uma ação feminina, o que evidencia uma desigualdade de gênero, que pode acarretar em sobrecarga para mulheres e mães. O objetivo da presente pesquisa foi compreender as vivências e experiências de mulheres que vivenciaram o processo gestacional e maternidade durante o enfrentamento da COVID-19, utilizando como base as premissas do feminismo matricêntrico. Foram realizadas entrevistas narrativas, através da ferramenta Google Meet, com sete mulheres e mães que vivenciaram a gestação e puerpério durante os anos de 2020 a 2022. Os resultados foram organizados em oito categorias de análise. Dentre os principais resultados está o reconhecimento da complexidade em se auto reconhecer após a vivência da maternidade, colocando-a como um desafio de grandes proporções. As participantes destacaram a dificuldade em equilibrar múltiplos papéis e a sensação de perda da própria identificação, além do aspecto de luta para ser reconhecida para além do ser mãe. Cada participante trouxe sua experiência frente aos demais atores sociais que participam de sua vivência, porém, a presença de sobrecarga frente ao trabalho invisível do cuidado foi relevante, destacando a presença de sentimentos ambivalentes entre o amor e o desafio da atividade de maternar, além do que é imposto pela sociedade patriarcal frente ao ideal de boa mãe, que exige uma maternidade intensiva. Embora algumas tenham encontrado aspectos positivos, como a privacidade no pós-parto durante o período pandêmico, a maioria expressou preocupações e mudanças significativas em suas rotinas, destacando-se a presença de medo, principalmente relacionado à sua própria saúde e a do bebê, além de ansiedade e solidão. A pandemia evidenciou as desigualdades sociais e reforçou a urgência de uma abordagem inclusiva e interseccional sobre a maternidade. Por fim, é preciso considerar que o debate deve ser público, entre o Estado e a sociedade, a fim de valorizar e apoiar todas as formas de maternagem, na medida em que sejam respeitados os direitos individuais das mulheres. Além disso, é importante a realização de ativismos maternos que, essencialmente, buscam desafiar as estruturas opressivas que afetam as vivências das mulheres mães. Ver menos

Historically, in our society, caring is attributed to women, with an evident focus on the maternal figure and the responsibilities involved with daughters and sons. Mothering is seen, almost exclusively, as a female action, which highlights gender inequality, which can result in overload for women and mothers. The objective of this research was to understand the experiences of women who have experienced the process of pregnancy and motherhood during the fight against COVID-19, using the premises of matricentric feminism as a basis. Narrative interviews were conducted using the Google Meet tool with seven women and mothers who experienced pregnancy and the postpartum period from 2020 to 2022. The results were organized into eight categories of analysis. Among the main results is the recognition of the complexity of self-recognition after the experience of motherhood, presenting it as a challenge of significant proportions. The participants highlighted the difficulty in balancing multiple roles and the feeling of losing their identity, in addition to the struggle to be recognized beyond being a mother. Each participant brought their experience to the other social actors who participated in their experience. However, the presence of overload in the face of the invisible work of care was relevant, highlighting the presence of ambivalent feelings between love and the challenge of mothering, in addition to the which is imposed by patriarchal society in the face of the ideal of a good mother, which requires intensive motherhood. Although some found positive aspects, such as postpartum privacy during the pandemic period, the majority expressed concerns and significant changes in their routines, highlighting the presence of fear, mainly related to their health and that of the baby, in addition to anxiety and loneliness. The pandemic highlighted social inequalities and reinforced the urgency of an inclusive and intersectional approach to motherhood. Finally, it is necessary to consider that the debate must be public between the State and society to value and support all forms of mothering to the extent that women's individual rights are respected. Maternal activism essentially seeks to challenge the oppressive structures that affect the experiences of women mothers. Ver menos

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