Esta dissertação tem por objetivo analisar os discursos em torno do acontecimento da quase
morte da atriz e apresentadora Leila da Rocha Cravo, em 1975, quando foi encontrada ferida e
desacordada em uma rodovia, próxima a um famoso motel do Rio de Janeiro. Tal
acontecimento recebeu ampla repercussão por parte dos veículos midiáticos, o que mobilizou
a opinião pública com relação à jovem, que teve sua carreira afetada pelo julgamento social e
moral da época. Esse julgamento se deu, sobretudo, a partir de discursos atravessados e
constituídos por vontades de verdade cujas configurações históricas aproximam-se dos
discursos machistas - e das práticas sociais dele decorrentes - ainda existentes na
contemporaneidade. O enfoque da pesquisa é sobre como foi apresentado o acontecimento de
Leila Cravo, e como a própria foi vista julgada em função do acontecimento, seja pela mídia,
pelas pessoas próximas, e por ela mesma, e como os diversos discursos podem afetar a visão
sobre um acontecimento e sobre uma pessoa. Como material de análise são descritas e
analisadas sequências enunciativas de e sobre Leila materializadas no podcast Leila,
disponível na plataforma Globoplay. A análise e as discussões são guiadas pelos Estudos
Discursivos Foucaultianos (EDF), mais precisamente pelos procedimentos de controle do
discurso, conforme Michel Foucault, bem como pelo conceito de pós-verdade de Christian
Dunker, de modo a compreender como Leila se narrava, e como se sentia afetada profissional
e pessoalmente com o acontecimento e sua repercussão na grande mídia. Assim, focalizando,
sobretudo, o material jornalístico da época, as análises apontam para o funcionamento
discursivo oriundo das opiniões públicas, em geral machistas, segundo as quais as mulheres
de destaque eram vistas e julgadas, e explicitar como certas ferramentas de exclusão e
silenciamento podem agir na sociedade e produzir perversos modos de subjetivação do sujeito
mulher. Foi possível observar como as vontades de verdade agiram sobre a visão pública do
acontecimento envolvendo Leila Cravo, tomando-a como suicida, e não como vítima de uma
violência, sem uma preocupação em apurar os fatos ou ouvi-la apropriadamente, e como o
acontecimento afetou os discursos de e sobre Leila Cravo. Ver menos